terça-feira, 13 de setembro de 2011

Dicotomia

Não se sabe bem quando aconteceu, mas o fato é que aconteceu! Foi um processo sorrateiro, engendrou-se longe dos olhos aos poucos, aparentemente desde há muito tempo, possivelmente logo após o berço... Após uns 10 anos, a convivência já ficava difícil, os dois já pouco se entendiam, pouco tinham em comum em suas formas de agir e encarar o mundo, mas tinham de dividir a mesma moradia...afinal, estavam fadados a passar a vida lá, juntos, em termos. Enfim, depois de iniciado, realmente, o processo, não houve como evitar: divórcio!

Pois é, cérebro e coração já não conseguiam mais coexistir, apesar de serem forçados a passar uma existência dentro do mesmo corpo. Porém, mesmo sob um "teto" em comum, a separação foi total. Cada um seguiu com a vida a seu modo, apesar das interferências de um sobre o outro, do desprezo ocasional, das gozações, das provocações...


Toda vez que o coração se empolgava com algo, o cérebro chamava-o de irresponsável. Sempre que o cérebro planejava, o coração acusava-o de demasiada frieza! Ao apaixonar-se, o coração recebia risos de zombaria, como também abusava da ironia frente a todos os medos do antigo parceiro. Não havia paz entre eles.

Mas, a essência do ser em que habitavam já não aguentava mais tanta baderna, tanta inimizade dentro de si, cheio de confusões e agonias causadas pelo desentendimento desses dois encrenqueiros que, apesar de bem intencionados, não podiam ficar juntos, tornando-se piores do que realmente eram quando levados individualmente. Assim, foi necessário um intermediário a tentar negociar a paz.

Nada é perfeito, sendo a paz entre os dois algo bastante frágil. No entanto, eles têm se esforçado, tem buscado conviver em relativa harmonia. O grande problema surge sempre que há alguma decisão importante a ser tomada, algum caminho relevante a ser seguido. Ambos jogam suas opiniões e vontades, tentam controlar as rédeas da situação. Um puxa daqui, outro puxa de lá...o resultado nem sempre dá certo, como é de se imaginar.



A cada derrapagem causada por um ou outro, há trocas de olhares acusatórios. Sempre surge um "eu te disse, eu avisei", mas não se houve pedidos de desculpas, raro haver um sincero perdão. Mas, com o passar dos anos, foram aprendendo a criar uma aparente sensação de trégua. Há alguns desentendimentos ocasionais, alguns rancores mal resolvidos, mas uma aparente tranquilidade...frágil, mas existente.

Ainda haverão de aprender muito, antes de poderem conviver em harmonia. A separação total parece definitiva, mas a convivência poderá ainda ser trabalhada. Fazer o quê, não é mesmo?! Sempre peço que os dois se entendam, afinal habitam em mim e os tenho em grande estima. Tenho a esperança de que, um dia, possam se reconciliar...e que seja ainda nessa vida!


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